sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Ciranda de Blogs - Aventureiros, Uma Vida de Horrores

O tema desse mês na Ciranda é Lovecraft, um autor querido por nove entre dez jogadores de RPG de horror. Acredito que não é preciso fazer nenhum tipo de introdução, já que, mesmo de uma forma diluída, o legado dos Mythos está mais vivo e popular que nunca. 

Escolhi fazer um texto focado em um dos temas mais abordados pelo Cavaleiro de Providence: Sanidade (e a inevitável perda dela). Infelizmente eu nunca tive a oportunidade de conhecer nenhum sistema de RPG que focasse nos Mythos, como Call of Cthculhu ou o Rastro de Cthculhu, tenho certeza que algumas coisas que eu escrevi aí embaixo são muito mais bem exploradas nesses livros. Enfim, vamos ao que interessa.



Em essência, todos personagens de jogadores de RPG são "aventureiros", eles podem ser um grupo de D&D clássico, com um guerreiro duro na queda, e uma elfa gostosa; Podem ser membros de uma gang em um futuro cyberpunk ou (sempre a minha escolha) investigadores do sobrenatural, não importa, existe algo que é comum em todas estes cenários: Os personagens sempre vão estar envolvidos em situações bizarras, vão ver coisas que fariam qualquer pessoa normal molhar as calças e correr, vão ter sua fé e senso da realidade testados quase todos os dias, isso sem contar que cada segundo pode ser o último de suas vidas. 

Claro, os personagens não são pessoas normais, mas ainda são pessoas, se eles tem sentimentos e consciência essa não é uma vida fácil de se levar, e em algum momento uma descoberta pode ser grandiosa ou hedionda de mais para a sua mente aguentar, é quando a insanidade aparece como último refúgio.


SENSO DE REALIDADE


A forma mais comum de um personagem se ver cara a cara com a loucura, é ter sua realidade questionada, mas o que é comum e o que não é ? Um grupo de orcs vivendo em uma floresta pode ser algo pueril em um cenário de fantasia medieval clássico, qualquer aldeão iletrado sabe que orcs existem e costumam construir vilas, isso não os afeta de modo algum. Mas no mundo moderno de um cenário como Trevas ou Mundo das Trevas, onde tudo funciona (quase) exatamente como na nossa realidade, essa é uma descoberta estarrecedora para um ser humano normal, acostumado com ciência e lógica.

Que implicações cada sujeito vê ? Como o ser humano comum, que acaba se deparando com uma sociedade de seres que não deveriam se quer existir (sejam orcs, vampiros, lobisomens) vai reagir ? Se imagine no lugar dele, se de repente um belo dia você acordasse e descobrisse que seu gato pode falar, e afirma ser o terceiro Lorder do Inferno, "Sardacc, o de sete almas". A primeira coisa que você faria, é questionar sua sanidade (se não, sinto muito em lhe formar, mas talvez a loucura já tenha te pego). 

Depois de algum tempo convivendo com Sardacc (que agora se recusa a atender pelo velho nome de Sr. Fofo) e tendo comprovado que ele é mesmo algum tipo de gato falante, como o mundo te parece ? Talvez você tenha um cuidado redobrado ao lidar com outros animais, vai saber quantos mais deles não são Lordes de alguma outra dimensão, ou talvez você passe a se perguntar se alguns "incidentes" não seriam obras destas ou outras criaturas escondidas entre nós.





Se seu personagem tem alguma religião, talvez esse seja outro ponto que oferece situações de drama interessantes. Muitas vezes a crença em algo invisível guia nossos passos, pessoas levam consigo ensinamentos de dezenas de centenas de anos atrás, seja  passagens da Bília, do Alcorão, ou Guia do Mochileiro das Galáxias. A fé em algo nos faz seguir em frente, mesmo quando estamos sem forças, a fé nos diz para sermos bons com os mais necessitados e nos desviarmos do que é errado. Mas e se sua fé for testada além dos limites cotidianos ? 

Um fazendeiro que a vida inteira foi temente ao seu deus, uma noite se vê cercado por criaturas que desceram de uma grande nave espacial. Será que ele ainda acreditaria que existe um Deus que criou tudo no universo e espera para levar as almas no dia do arrebatamento ou se sente um tolo, que acreditou em uma crença sem funfamento ? Momentos como esse são comuns nas mesas, e muito pouco explorados nesse sentido.  

A sanidade de alguém também pode ser testada com a comprovação da fé. Por exemplo, e se nosso amigo fazendeiro, esse mesmo, que sempre foi fiel ao seu deus, ao invés de dar de cara com et's, presenciasse uma aparição de um anjo, ou outro tipo de prova irrefutável de que tudo que era invisível em sua crença, existe e é bem real. Pode ser que ele siga sua vida com confiança redobrada, sem nunca mais duvidar do que sua religião prega, ou, pode ser que ele se torne algum tipo de fanático, uma pessoa que não tolera "falsas" crenças, e faz o que for preciso pra dar um fim no que considera pecado.


TRAUMAS



Nem tudo são gatos demônio e alienígenas no mundo dos aventureiros.

Só duas coisas são certas na vida de um personagem: os XP's e a Morte. A morte é uma companheira constante. Talvez o personagem mate para viver, caso ele seja um mercenário, ou caçador de monstros, talvez ele viva pra matar, se for ele mesmo um monstro. 

Vou insistir no ponto de vista da "pessoa comum", por que temos que partir de algum lugar, veja bem, quase (eu disse quase) todo mundo é contra assassinato. Sim, muita gente vai dizer que tem esse ou aquele caso em que o sujeito merece morrer, mesmo que seja sendo esfaqueado uma viela escura, sem julgamento ou misericórdia. Mas quantas das pessoas realmente fariam algo assim ? Quando for começar a jogar com um novo personagem, pense bem qual o valor que ele da para a vida, tanto a dele quanto do próximo no geral. É muito divertido jogar com guerreiros fodões que matam sem exitar, mas experimentar o lado mais humano e as consequências de um "simples" assassinato podem ser ainda mais divertidos. 

Falando em assassinato: Cenas de Assassinato.Corpos. Tortura. Mutilação. Quantas vezes seu personagem já tinha visto algo assim antes da campanha começar ? Não estou dizendo que toda vez que ver um corpo ele deve chorar ou ficar histérico, mas pense bem sobre isso. Pessoas reais passam uma vida inteira sem nunca presenciar atos de violência, mas nossos personagens são expostos a coisas horríveis sessão de jogo após sessão de jogo. Ver o que há pior na humanidade pode abalar qualquer um. Não seria estranho que o aventureiro, pai de família, ficasse revoltado ao investigar um caso que envolve um assassino de adolescentes; Um investigador que se depare com um cadáver particularmente brutalizado, pode muito bem se tornar insone ou passar a ter pesadelos.



Situação para abalar a sanidade dos personagens e criarem momentos memoráveis em mesas de jogo não faltam, e são a saída mais fácil, para tornar mesmo as cenas m ais clichê em algo dramaticamente produtivo. Tenha isso em mente quanto começa sua próxima campanha.



PS: Essas semanas têm sido mesmo difíceis pra mim, além de ter que lidar com o o clássico dilema "horas de sono versus tempo para escrever", minha internet me abandonou e eu já nem sei quando foi a última vez que consegui publicar alguma coisa por aqui. Vou tentar resolver isso o mais rápido possível.

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